Morgana - Segunda Parte

SEGUNDA PARTE

       Durante a noite, Mari pensou. Pensou muito. Ela não queria se envolver com isso novamente. Vampiros. Morgana não parecia ser uma pessoa muito legal, que dispensaria sua vida. E ela não estava muito disposta a morrer ou ser transformada. Já havia passado por uma experiência parecida e aquela havia sido a pior de sua vida. Por um tempo se pegou questionando como aquela garota era vampira numa cidade tão longe de onde ela tinha vindo. Haviam mais vampiros pelo país, talvez pelo mundo. Assim como lobisomens. Que outras criaturas deviam estar vagando por aí sem o seu conhecimento? E foi pensando nisso que adormeceu.
       Acordou atrasada para a aula. Colocou seu jeans e um moletom e correu para as escadas. Quando abriu a porta para a rua, alguém a esperava.
       “Bom dia.”
       Mari ofegou com o susto e colocou uma mão na boca, perdendo o passo. Ele a acompanhou até a lancheria onde ela comprou um café.
       “O que faz aqui? Quero dizer… Como sabe onde eu moro? Afinal, você não é vampiro para me rastrear… Ou…” – ela deixou a frase no ar, falando baixinho e ele franziu o cenho.
        Achava Eugênio tão bonito. Desviou o olhar para o seu café e tomou o primeiro gole, queimando a língua. Fingiu um bocejo pra colocar a mão no rosto e fazer uma careta.
        “Morgana pediu que eu vigiasse você.” – admitiu, cabisbaixo.
        A humana percebeu o quanto ele odiava o fato de ser submisso àquela vampira, mas que não podia fazer nada a respeito daquilo.
        “A quanto tempo você vem fazendo isso?”
       “Desde o primeiro dia.”
       Fazia sentido. Marianna lembrava de ter ouvido barulhos em sua casa uma noite. Por um momento ficou irritada, porém gostava de saber que ele teria a visto dormir e isso a fez sorrir.
        “Que foi?”
        Ela balançou a cabeça inúmeras vezes e se escondeu atrás do café que já não estava mais tão quente. Os dois andaram em silêncio por um tempo. Mari gostou de ter ele ali ao lado dela.
        “Qual curso você quer passar?”
        Ele ficou em silêncio.
       “Na federal” – a humana explicou e ele riu.
        “Engenharia Mecânica. Mas é meio difícil se concentrar nos estudos quando você tem uma vampira no seu calcanhar. Se é que você me entende...”
        Os dois riram baixinho, mas depois a garota lembrou de Amanda e ficou chateada.
        “Minha melhor amiga virou vampira e eu me afastei. Sou uma covarde.”
        “Você não é covarde. Talvez tenha sido pro bem das duas. Aposto que ela não queria machucar você e você não devia estar muito disposta a enfiar uma estaca no coração dela a qualquer momento.”
        Ele não deixava de estar certo. Ao chegar na aula, o garoto não conseguiu prestar atenção em mais nada. Apenas queria ficar conversando horas e horas com aquela garota encantadora. Ela o fazia esquecer todos aqueles dias que passou trabalhando para Morgana. E foi então que teve a brilhante ideia.
        Aguardou até o intervalo. Morgana estava distraída, se é que isso era possível, então ele aproveitou para puxar Marianna e sussurrar.
       “Me siga.”
        A humana franziu o cenho, mas obedeceu. Percebeu que o garoto calculava os passos cuidadosamente e ligou ao fato de que Morgana poderia ouvi-los. Foi assim que entendeu que o plano dele era fugir. Antes dele abrir a boca ela o interrompeu.
        “Acha que isso é possível?”
        Eugênio demorou para entender do que ela estava falando, mas depois sorriu.
        “Ela não vai nos pegar. Vamos para o mais longe possível daqui.”
        Mari cruzou os braços. A ideia era meio absurda, mas não conseguia segurar a ansiedade de saber a sensação de fugir de um vampiro.
        “Ela pode nos rastrear…”
        Ele segurou a mão da garota e ela se interrompeu.
        “Você confia em mim?”
        Após longos segundos ela assentiu. Eugênio deixou escapar um sorriso e sussurrou.
        “Para onde você quer ir?”
        Ela pensou. Onde gostaria de começar uma vida nova? Onde gostaria de morar, estudar, conhecer pessoas e passar o resto da vida? Deu de ombros.
        “Qualquer lugar.”
        “Então o que está esperando?”
        Os dois sorriram um para o outro e ela pegou a mão dele, puxando-o para fora da sala.
        “Vamos dar o fora daqui.”
        Depois de se separar dele, correu para seu pequeno apartamento. Tinha poucas coisas que queria levar consigo. Apenas uma mochila pequena onde guardaria o dinheiro e alguma coisa pra comer no caminho. Dentro de uma hora, Eugênio tocou a campainha. Ele estava pronto também. Quando desceu as escada e saiu para a rua, o encontrou dentro de um Ford Mustang 1967 conversível vermelho.
        Mari soltou uma risada ao entrar no carro.
        “Nem um pouco chamativo.”
        Ele riu com ela, deu de ombros e acelerou. A garota jogou a mochila no banco de trás e colocou os óculos escuros. Logo, Eugênio alcançou a estrada e a viagem começou de verdade. Mari respirou fundo, tranquila. Achava que estava fazendo a coisa certa para si mesma. Precisava se afastar de seres que estavam colocando a vida dela em risco. Não sabia onde iriam parar, mas de uma coisa ela tinha certeza: era longe de vampiros.

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