Amanda - Segunda Parte

SEGUNDA  PARTE

“Lobisomem? Co-como assim?” – gaguejou a vampira.
“Wow, vocês estão de brincadeira comigo! Primeiro uma vampira e agora um lobisomem. Então isso quer dizer que existem bruxas também?” – a humana pulava de felicidade.
O garoto franziu a testa. Ignorando-a, ele se sentou no banco ao lado de Amanda que também não entendia como aquilo podia ser possível.
“Desde quando você é uma...” – Daniel não conseguiu terminar a frase.
“Descobri hoje” – murmurou ela, lembrando de quando acordou.
“Não é possível”
Ele se levantou bruscamente com as mãos na cabeça. As duas garotas acompanharam seus movimentos e perceberam que ele estava com raiva e ao mesmo tempo desesperado. Elas queria perguntar o que havia acontecido, mas tinham medo de não ter a resposta que queriam. Decidiram então esperar.
“Eu também descobri ser um lobisomem hoje”
“Ai meu Deus”
“O que vamos fazer? Ninguém sabe que vocês são seres esquisitos agora” – lembrou Mari.
Os três se olharam. Não podiam ficar parados. Tudo bem que ninguém sabia da existência de vampiros e lobisomens, mas eles não deviam arriscar. Talvez devessem ficar longe da família, dos amigos e da escola até tomarem uma decisão.
Amanda pediu para que a amiga ficasse com ela. Ainda tinha medo do garoto lobisomem, pois sua mordida podia mata-la. Enquanto eles andavam até a casa dele, várias dúvidas surgiam em suas cabeças. Até Marianna quebrar o silêncio novamente.
“Posso ser vampira também?”
O garoto riu enquanto Amanda fazia uma careta. Se fosse assim pelo resto da semana, ela não aguentaria e acabaria matando a amiga. Ela devia estar ajudando e não só complicando sua vida.
Ao chegar na pequena casinha, a garota vampira se lembrou de uma coisa importante.
“A lua cheia”
Houve silêncio.
“Quando é a próxima lua cheia?”
“Minha nossa, é verdade! Como não havíamos pensado nisso antes?!” – ofegou a humana.
Daniel pegou o calendário com as mãos suadas e trêmulas e procurou pelo pequeno desenho no canto da página. Suspirou. Por sorte, já havia passado o dia. Teriam que esperar pelo mês seguinte.
Cansados, os três se sentaram no sofá, desejando acordar daquele pesadelo e voltar a ter uma vida normal. Nenhum dos três queria viver aquilo pelo resto da vida. E se aquilo fosse mesmo real e eles tivessem que fugir de todos, escondendo a sua própria identidade?
“Espera. Quando eu o mordi, você disse algo como ‘você também? ’. O que queria dizer com isso? Há outros vampiros na cidade?”
“Felizmente não. Eu estava assustado. Achava que eu era o único que estava passando por efeitos sobrenaturais. Aí apareceu você. Então vi que eu não estava sozinho.”
Marianna fechou os olhos. Aqui não parecia real. Não era real. Eles devia estar pregando uma peça nela. Até que ponto ela chegaria a acreditar na amiga? Será que chegara a hora de começar a duvidar? Ela olhou para os dois sentados no sofá e suspirou.
Como a vampira se alimentaria? Como o lobisomem iria passar pela sua primeira lua cheia? Perguntas complicadas sem resposta gritavam em suas cabeças. Problemas que precisavam ser resolvidos antes que o tempo acabasse. E eles estavam sozinhos. Não podiam pedir ajuda.
Deviam existir mais espécies. Eles não podiam ser os únicos da face da terra. Talvez, com o passar do tempo, os que estivessem perdidos reencontrassem sua matilha e eles viveriam tranquilos. Tinha que haver um jeito de concertar aquela bagunça antes que fosse tarde demais.
As horas passavam lentamente. Contando os segundos do relógio, Mari deitou num pequeno canto do sofá e adormeceu esperando que quando acordasse tudo voltasse a ser como era antes. Desejava profundamente que ela estivesse no colégio fazendo a prova de física e fofocando com Giuliano sobre o novo episódio da sua série favorita de televisão.
Porém tudo aconteceu tão diferente do que ambos planejavam... Nenhum deles queria se tornar um monstro, mas apenas seguir a vida em frente. Terminar o terceiro ano, fazer uma faculdade boa de medicina, morar no exterior e arranjar um bom companheiro para viver com ele pelo resto da vida.
Tudo aquilo fora jogado fora tão rápido que não dera tempo de pensar no que fazer a seguir. Eles estavam presos no seu próprio eu. Presos numa charada feita por eles mesmos. O problema era como desvendar aquilo.
“Isso não parece real”
Daniel virou o rosto para olhar Amanda. Os dois estavam sozinhos na sala enquanto a humana inocente fora para o quarto. O silêncio que deixava os dois aflitos estava incomodando. Eles sentiam que estavam juntos, mesmo que não quisessem.
Amanda sentia uma necessidade forte de sangue. Todos os seus sentidos foram multiplicados e aquilo não estava sendo legal. Ela queria comer, gritar, chorar, beijar, amar, matar... Tudo misturado de uma forma que não entendia o que tinha que ser feito primeiro. E Daniel sentia a mesma coisa.
Quente. Por dentro e por fora. Ele queria arrancar Amanda daquele sofá e beijá-la loucamente. Não entendia porque, mas era forte. Muito forte. Ainda sentado, se segurou para não falar nada que fosse se arrepender, e escolheu as palavras cuidadosamente.
“Você esta sentindo isso?”
Ela levantou as sobrancelhas em resposta. Não entendia do que ele estava falando. Haviam tantas coisas que ela estava sentindo ao mesmo tempo que não conseguia escolher uma mais forte para descrever.
Mas ele deixou as palavras soltas no ar e não voltou a falar. Sentia uma dor forte nos músculos, na coluna, no maxilar. Cada movimento custava uma pontada aguda em partes do seu corpo. Ele se sentia mais forte, era verdade. Poderia segurar aquele sofá e quebrar a parede com ele se quisesse.
Todas as janelas e cortinas estavam fechadas. Ninguém podia saber que eles estavam ali. Poucas luzes estavam acesas e deviam ser cuidadosos com o barulho. Ela estava com fome. A vampira se controlava para não invadir aquele quarto de hóspedes e não morder o pescoço frágil da amiga que agora dormia profundamente. Ninguém saberia de nada. A garotinha não iria sentir dor alguma...
Respirando fundo, ela se levantou e foi até a cozinha esperando achar algo que pudesse sustentar sua fome. Ao abrir a geladeira, pegou um pedaço de pizza e um bolo de laranja e começou a comer. A maldita fome não passava. Por mais que não parasse de comer, a sede por sangue ainda estava firme e forte ali.
Voltando pra sala, ouviu a campainha tocar. Tarde demais. Com sua velocidade anormal correu até a porta e quando abriu a porta, puxou a pessoa para dentro. Por sorte, era apenas um vizinho. Sem esperar, perfurou a pele fina do pescoço do homem e ele caiu aos seus pés depois que ela saciou a sede.
“Meu Deus, o que você fez?”
“Desculpe”
Daniel correu até o homem ensanguentado e o arrastou até a lavanderia. Amanda ajudou a limpar o sangue do chão e sem saber o que fazer, ficou sussurrando mil desculpas ao amigo.
“É uma vontade que eu não consigo conter”
Pausa na conversa. Os dois se olharam esperando alguém continuar a conversa, mas nenhum dos dois sabia o que falar. A batida de seus corações de repente começou a bater no mesmo ritmo, como se estivesse avisando o que aconteceria a seguir.
“Quer saber uma vontade que eu não consigo conter?” – sussurrou Daniel.
Não foi preciso uma resposta. Os dois se aproximaram um do outro e começaram a se beijar loucamente. A necessidade era enorme. O desejo que um tinha pelo outro era incontrolável. Logo, eles já estavam em cima do sofá novamente. Haviam esquecido completamente o que eram. Só queriam matar aquela vontade louca que habitava dentro de si.
Mas o que eles não esperavam era que o garoto se descontrolasse. Uma pequena mordida no pescoço podia se tornar o pior pesadelo dos dois. E foi o que aconteceu. Amanda não acreditava no que ele acabara de fazer. Colocou a mão no sangue exposto que escorria pelo corpo e arregalou os olhos, com medo.
“Ai meu Deus, você me mordeu!”


INSTAGRAM @ MALU DAUER