Amanda - Terceira Parte

TERCEIRA PARTE

Parece que depois da mordida o tempo ficou devagar, tudo passava lentamente. Daniel colocou as mãos na boca, espantado. O sangue secou, mas Amanda não sentiu a ferida fechar. Não houve mudança alguma.
“O que acontece agora?” – perguntou, traumatizado.
“Nada. Vamos esperar até eu morrer.”
“Não diga isso...”
“Você me mordeu! Será que não entende? Não há cura!”
A raiva da vampira estava fora do controle. O garoto não sabia como viver a vida de um lobisomem muito menos as regras para se manter vivo. Ele havia acabado de por a vida de sua amiga em risco sem ao menos saber o porquê nem como. E não havia como consertar. Ela precisava acordar Marianna. As duas tinham que tentar lembrar a cura como acontecia na série de TV.
A humana abriu um pouco os olhos, espiando quem era e se apavorou com a expressão da amiga. Estava pálida, suando, cansada. Sentou-se na cama e esperou o desabafo.
“Preciso de sua ajuda, agora.”
“O que...”
“Dan me mordeu.”
“Não.”
Aquele era o pior jeito de ser acordada. Em menos de 5 segundos, seu coração começara a bater histericamente e sentia que estava prestes a começar a chorar.
“Quero que me ajude a lembrar qual era a cura da mordida de um lobisomem, na série de televisão.”
Sem perder tempo, começou a pensar em tudo o que já tinha visto. O personagem vampiro era mordido por um lobisomem. Ele ficava pálido, quase morria. Mas então, para salvar sua vida, um vampiro poderoso muito mais forte surgia para dar seu sangue. Um original.
“O sangue de um Original. Você precisa beber.”
“Onde vamos encontrar um Original? Não estamos em Mystic Falls.”
“Eu não sei...”
Não queria pensar que Amanda podia morrer. Segurou as lágrimas fortemente e abraçou a amiga. Como Daniel havia a mordido ela não sabia, mas não queria saber. Apenas queria que todos terminassem aquela história vivos.
O lobisomem surgiu na porta e ficou olhando as duas abraçadas. Ele se sentia eternamente culpado por dentro. A dor era muito forte. Não havia como saber que sua mordida podia matar. Se soubesse, teria cuidado antes. O que ele mais queria naquele momento era salvá-la. Nada mais.
Depois de ajudar a vampira desacordada a deitar na cama, eles foram para a sala pensar em algo. Por onde começariam a procurar, como, quando e onde. Mari pegou o celular e discou o único número que estava em seus favoritos.
“Alô?” – sua voz era sonolenta.
Olhou para o relógio. Eram quatro horas da manhã. Se arrependendo por tê-lo acordado, começou a falar.
“Giu, é a Mari. Sei que parece loucura, mas vou ser rápida. Amanda é uma vampira e foi mordida por um lobisomem. Preciso que confie em mim. Precisamos muito de sua ajuda.” – ela cruzou os dedos para que ele acreditasse.
Ouviu ele rir.
“Ahn, tudo bem. O que quer que eu faça?”
“Precisamos encontrar um Original.”
“E como quer fazer isso? É impossível!”
Ela pensou mais um pouco e sorriu.
“Você ainda tem aquela sua bússola dourada aí?”
“Sim...”
“Me encontre no parque agora. Leve a bússola.”
“Tudo bem.”
Desligou e colocou o celular no bolso. Uma ponta de esperança brotava dentro dela que não sabia se ia dar certo, só sentia que algo bom podia acontecer. Avisou Daniel e saiu pelo sereno da noite fria.
Como o combinado, Giuliano estava ali. Ela sorriu e abraçou o amigo. Ele ainda não sabia se acreditava naquela história. Sentia que queria ajudar, mas no fundo aquilo parecia uma mentira mal contada. Como vampiros e lobisomens podiam existir? E de repente toda aquela série de televisão se tornar real...
Ele estendeu a mão com a pequena bússola dourada e a amiga pegou-a cuidadosamente. Ao abrir, ficou atenta a qualquer movimento.
“O que acha que vai fazer?”
Por um breve momento, não deu atenção ao garoto apenas observou os ponteiros parados. Seu coração palpitou forte e um sorriso bobo abriu no seu rosto. Ela havia descoberto uma das charadas.
“Essa é uma bússola de vampiros. E eu não acho, eu tenho certeza.”
“Onde Amanda está?”
Então os dois seguiram até a casa do lobisomem. Mari estava tão feliz que conseguira descobrir aquela bússola e ainda convencer o amigo que tudo aquilo era real que esqueceu do quão complicada era a situação naquele quarto escuro. Ao abrir a porta e ver a vampira machucada na cama, Giuliano correu ao seu encontro para abraça-la.
“Então é mesmo verdade. Meu Deus.”
“Giu? Tudo bem, o que está acontecendo? Você contou para ele Marianna? Saiba que se eu sair daqui viva, você está morta...” – murmurou, fraca.
“Tudo é por uma boa causa. Consegui a bússola.” – cantarolou, balançando o pequeno objeto em mãos.
“Pra que isso aí serve?”
Daniel entrou no quarto e Giu franziu o cenho.
“O que ele está fazendo aqui?”
“Este é o lobisomem. Foi ele quem mordeu Amanda.”
“Porque ele continua aqui? Ele é um perigo para nós!”
“Acalme-se. Foi sem querer. Vamos resolver isso tudo.” – dizia Mari.
Acalme-se? Como alguém poderia se acalmar com toda aquela situação? Primeiro a notícia de que vampiros e lobisomens existiam e depois a breve notícia de que quem mordeu Amanda fora Daniel? Giuliano escondia o seu ódio com os punhos cerrados, fitando o lobisomem.
“Essa bússola caça vampiros.” – explicou a humana apontando-a para Amanda.
Os ponteiros começaram a se mexer descontroladamente em todas as direções. Certamente, não haviam mais dúvidas. Amanda era uma vampira. Ainda deitada, ela murmurou um palavrão inteligível e voltou a fechar os olhos.
“Tudo o que temos que fazer é ir para o parque à tarde e usá-la. Giu você vai comigo. Dan, você cuida de Amanda. Não quero ver os dois se pegando quando eu voltar.”
Foi a vez do lobisomem murmurar um palavrão em bom som que deu a deixa para os dois humanos saírem do local, deixando-o finalmente sozinho com Amanda. Ele se ajoelhou ao pé da cama e ficou olhando seu rosto com gotas brilhantes de suor. A pequena mordida em seu pescoço estava maior e mais feia.
Ele se sentia muito arrependido. Se pudesse, voltaria no tempo e tudo seria normal como antes. Ela se revirou na cama, sentiu sua presença e abriu os olhos o máximo que conseguia.
“Desculpe. Droga, eu realmente não sei como dizer isso, mas estou muito arrependido. Não devia tê-la beijado. Deveríamos ter mantido distância desde o início, mas eu não queria porque te amo. Que coisa mais babaca da minha parte. Tudo bem, vou deixa-la descansar”
Ele suspirou e se levantou para ir embora.
“Espere”
O garoto voltou e ela segurou sua mão com a maior força que podia fazer. Ele beijou de leve seus lábios e saiu do quarto.
Já na praça, Marianna deixou a bússola no bolso do casaco fino e se sentou ao lado do amigo num dos bancos, esperando as primeiras pessoas aparecerem. Aos poucos, o sol ia nascendo e os primeiros ciclistas começavam a surgir. Preparada para ‘caçar vampiros’ ela abriu a bússola e apontou para as pessoas. Durante algumas horas eles ficaram sentados esperando a multidão chegar.
Em pouco tempo, o lugar estava cheio. Foi a hora dos dois agirem. Discretamente, ela apontava a bússola para um grupo, depois para outro e nada acontecia. Estava começando a pensar que era loucura quando sentiu algo diferente.
O objeto começou a balançar, tremendo em suas mãos. Como da vez que o apontara para Amanda, os ponteiros se mexeram descontroladamente em todas as direções. Giuliano percebendo o acontecido correu ao seu encontro, os dois se olharam e sorriram.

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